quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Dois líderes do Fora Collor dividirão o plenário com o ex-presidente Collor

A próxima legislatura reserva dias constrangedores para o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Depois de perder a disputa para o governo de Alagoas, o ex-presidente da República voltará ao Senado para cumprir os próximos quatro anos de seu mandato. Mas a renovação da Casa trará para perto de Collor inimigos que marcaram a sua vida pública há 18 anos. Ainda adolescentes, os recém-eleitos Lindberg Farias (PT-RJ) e Randolfe Rodrigues (PSol-AP) agitaram a juventude de todo o país liderando o movimento Fora Collor. A incomum participação popular registrada em 1992, quando jovens brasileiros pintaram a cara para pressionar o Congresso a votar pelo impeachment do então presidente, foi fundamental para a ação dos parlamentares que definiram o destino de Collor.
Amadurecidos e experimentados pelas urnas e pela administração pública, os ex-caras-pintadas dividirão o plenário e as atividades nas comissões, a partir de fevereiro, com o ex-presidente que ajudaram a tirar do poder. A ironia do destino é apontada pelos dois novos senadores. Lindberg conta que foi pego de surpresa com a constatação da convivência com o desafeto. O petista era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) quando mobilizou os jovens a irem às ruas para protestar contra a permanência de Collor no poder. Envolvido com a missão de transferir para a candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT) os mais de 4 milhões de votos que recebeu, Lindberg diz que ainda não tinha pensado no assunto e imagina como vai se comportar ao se deparar com o ex-presidente nas dependências da Casa. “Vou ter educação, vou cumprimentar. Para ser muito franco, não pensei muito no assunto. Vou agir de forma civilizada. Mas deve haver um certo distanciamento. Ele vai para um lado, eu vou para o outro. Acho que vai ser um aperto de mão frio”, resume.

O socialista Randolfe, no entanto, já pensou no assunto. Ele conta que, apesar da militância no movimento caras-pintadas, nunca viu Collor pessoalmente. Em 1992, o senador eleito pelo Amapá era filiado ao PT e Lindberg, ao PCdoB. Apesar de à época os partidos se situarem em espectros ideológicos diferentes, Lindberg e Randolfe se recordam um do outro, e da atuação política durante a adolescência. Durante o Fora Collor, Randolfe tinha 17 anos e Lindberg, 20 anos. O parlamentar eleito pelo PSol conta que não vê Lindberg desde 1993. “Continuo com os mesmos ideais de quando eu era cara-pintada. A ironia da história possibilitou esse encontro, no Senado, entre os companheiros de militância e o objeto da nossa manifestação. Eu continuo com as mesmas posições e parece que o senador Collor também não mudou. Sou representante de interesses que são distintos dos de Collor. Espero que o encontro seja tranquilo.”

A ciranda histórica que reunirá os caras-pintadas e o ex-presidente da República na mesma instituição e exercendo o mesmo cargo incluiu mais um personagem do enredo que culminou no afastamento do chefe de Estado brasileiro em 1992. Lindberg lembra que o destino ainda se encarregou de levar para o Senado, no próximo ano, o presidente que substituiu Collor quando o alagoano sofreu o impeachment. “Vamos estar eu, o Randolfe e o Itamar Franco”, afirma, referindo-se ao senador eleito pelo PPS de Minas Gerais.

Do Correiobraziliense.com.br

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